segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Como se tomam decisões politicas (fictícias) em Portugal: O caso do TGV


Num mundo ideal a politica serviria para tomar as melhores decisões possíveis de forma a maximizar o bem-estar dos cidadãos. Melhorar a condição de vida dos cidadãos deveria ser o principal objetivo de todos os políticos, quer o seu nível de atuação seja local, regional ou nacional.
Porém, quando observamos com atenção o panorama politico nacional vemos que são mais os que estão nessa atividade para se servirem do que para servirem os outros. Aquela que deveria ser uma atividade altruísta, onde se exercitaria o prazer de se doar e de ajudar torna-se numa atividade completamente egocêntrica, visando apenas a satisfação do ego e da carteira.
No livro mais recente de José Rodrigues dos Santos, “A Mão do Diabo”, são descritas várias conversas “fictícias” (entre aspas, é claro!) entre altos dirigentes políticos e empresários.
Sobre o caso do TGV pode ler-se uma conversa entre o primeiro-ministro responsável pela decisão e um empresário a quem se chama Comendador (p. 538):

Diz o primeiro-ministro: “ (…) acontece que vamos avançar aqui com um projeto e… quero que você faça parte do consórcio. É muita massa envolvida meu caro amigo. Vai dar dinheiro para toda a gente”. Pausa. “Não, é evidente que a alta velocidade não é rentável, meu caro comendador. Também as auto-estradas não são rentáveis nem necessárias e isso não nos impediu de as fazer, pois não? Era preciso ajudar as construtoras amiguinhas e nós ajudamos, ou não ajudamos? Neste caso é o mesmo. A malta faz um contrato dos habituais, daqueles em que o estado paga para assegurar o lucro do consórcio encarregado do projeto. Será uma parceria público-privada segundo o esquema habitual, fique tranquilo”. Ainda uma pausa. “Isso, isso. Mas, oiça lá, quero um bom financiamento para o partido, ouviu? Olhe que estou a dar-lhe muito dinheiro a ganhar”.

Apesar de “fictícia” esta conversa retrata bem um dos grandes problemas da política em Portugal: o financiamento partidário. Quem conhece, ainda que pouco, a realidade eleitoral, sabe que muitos políticos são capazes de fazer quase de tudo para serem eleitos… O problema é que para serem eleitos muitos deles aceitam grandes financiamentos de empresas privadas e depois retribuem-lhes, quando eleitos, pelas suas “generosas” ofertas, quer seja através de concessões, elaboração de legislação favorável às empresas ou da adjudicação de obras de forma obscura (no caso das empresas de construção).
Estou convencido de que, para deixar de ser um país da periferia tem que haver uma diminuição acentuada da corrupção em Portugal. No gráfico seguinte podemos verificar como países com níveis de corrupção elevados tendem a ter economias mais débeis e vice-versa:

 
No livro “A Mão do Diabo” constam ainda outras conversas muito interessantes, em relação a casos como por ex. o da compra dos submarinos. Fica aqui um convite à leitura deste excelente livro!

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