Imaginem uma situação de solidão e monotonia: estar só no
cume de uma montanha, velejar o oceano, atravessar o deserto… nestas situações
pode parecer que não há ninguém à nossa volta. Mas será mesmo assim?
Há quem afirme que não devido ao chamado fator terceiro
homem. Este fator designa um fenómeno que ocorre, normalmente, a marinheiros
solitários e a alpinistas e que se carateriza por uma sensação de estar
acompanhado por uma presença (que pode ser simplesmente “sentida”, como pode
manifestar-se concretamente ao nível sensorial – ser vista e/ou ouvida) que
ajuda os indivíduos em situações difíceis.
O livro “O Fator Terceiro Homem” de John Geiger apresenta
muitos casos de encontros com o “terceiro homem”, entre os quais o de Ernest
Shackleton que é retratado nos parágrafos seguintes:
Em 1914 Shackleton partiu, juntamente com a sua
tripulação, de quase três dezenas de homens, para a Antártida para realizar o
feito de atravessar o continente gelado a pé. Porém, antes de lá chegar o seu
navio, o Endurance, acabou por ficar preso no gelo do mar de Weddell. Depois de
dez meses preso o navio foi abandonado pois estava a afundar-se.
As três dezenas de homens estavam agora no gelo juntamente
com os seus mantimentos e botes salva-vidas que retiraram do navio, a milhares
de quilómetros da povoação humana mais próxima. Decidiram então atravessar a pé
o gelo até chegarem a um ponto onde seria possível meter os seus pequenos botes
ao mar e tentar escapar da situação. Caminharam durante 15 meses e já em 1916
meteram-se ao mar. Nessa altura já estavam muito debilitados, quer física, quer
moralmente. Após três dias no mar avistam a Ilha Elefante, uma ilha erma, onde
ficou quase toda a tripulação. Shackleton e mais cinco tripulantes continuaram
de bote rumo à Georgia do Sul (que ficava a mais de 1000 Km da Ilha Elefante)
para lá tentarem obter um resgate para a restante tripulação.
A viagem até à Georgia do Sul foi extenuante: enfrentaram
furacões, chuvas torrenciais, ondas altíssimas. Ao fim de 17 dias de grande
luta pelas suas vidas conseguiram finalmente chegar ao seu destino. Porém a sua
provação ainda não estava completa… para chegarem à estação baleeira de Stomness
onde poderiam pedir ajuda tinham ainda de atravessar toda a ilha a pé por entre
“duas cordilheiras com mais de uma dúzia de picos que passam os dois mil
metros, todos rodeados por campos de gelo e vastos glaciares”. Apenas
Shackleton e mais dois homens foram, os restantes ficaram a tomar conta do
bote. Conseguiram atravessar e chegar a Stomness, onde encontraram a ajuda que
precisavam, sendo que também foi enviado um barco que resgatou os membros da
tripulação que estavam na Ilha Elefante.
Mais tarde Shackleton disse o seguinte: “Quando recordo
esses dias, não tenho dúvida de que a Divina Providência nos guiou, não só
naqueles campos de neve, mas pelo mar revolto que separava a Ilha Elefante do
nosso local de chegada, na Geórgia do Sul. Sei que durante aquela longa e
tortuosa caminhada de trinta e seis horas, por montanhas sem nome e glaciares
da Geórgia do Sul, me pareceu muitas vezes que éramos quatro e não três”.
De facto, também os outros dois homens que acompanharam
Shackleton na sua caminhada na Geórgia do Sul relataram independentemente ter
sentido uma presença de outro ser.
Este tipo de experiências é muito frequente em pessoas
quando estão presentes os seguintes fatores: monotonia, solidão, stress extremo
e vontade de ultrapassar os problemas. É muito interessante que a terceira
pessoa para além de reconfortar psicologicamente as pessoas em situações
extremas, dá-lhes conselhos sobre como ultrapassar os problemas que as apoquentam.
Há várias explicações para este fenómeno, umas de ordem
neurológica, outras de ordem psicológica e ainda as explicações
sobrenaturais/espirituais.
Independentemente da perspetiva que se toma acerca do fator
terceiro homem, a grande lição a retirar é que nas situações de maior sofrimento
existe a possibilidade de um terceiro homem caminhar ao nosso lado e nos ajudar
a ultrapassar as dificuldades. Pelo que parece não estamos sozinhos!