Desde há milénios que grandes pensadores se debruçam sobre
este tema e no entanto ainda não se conseguiu chegar a um consenso. Existem
basicamente três posições dominantes: monismo idealista (vulgo idealismo),
monismo materialista (vulgo materialismo) e dualismo. Não as pretendo analisar
exaustivamente nem dizer qual alguma delas é a verdadeira, até porque nunca
cheguei a nenhuma conclusão.
O materialismo parte da premissa de que tudo o que existe no
Universo é matéria. Para esta corrente o constituinte básico da realidade são
os átomos (em toda a sua complexidade, abarcando as partículas sub-atómicas) e
nada existe de espiritual ou “mágico”. O materialismo está entranhado no atual
paradigma científico e tem servido de base à maior parte do sucesso que a
ciência tem tido ao longo dos últimos tempos. Recentemente têm havido
tentativas de explicar a consciência como uma ilusão resultante da interação
dos neurónios, que por sua vez são entendidos como agregados de proteínas, que
são agregados de moléculas, que por sua vez são agregados de átomos. A esta
redução de uma realidade psicológica a uma realidade física designamos por
Reducionismo, um conceito estreitamente ligado ao materialismo.
O idealismo advoga a existência de apenas um princípio no
universo: a consciência. É através desta que percebemos o mundo e, portanto,
também a matéria é apenas “um disfarce”. O Budismo e o Jainismo, por exemplo,
são duas religiões idealistas ao afirmarem que esta está em toda a parte: nos
animais, nas plantas, nas rochas e até no vazio. Levando esta ideia ao extremo
existe uma corrente de pensamento idealista, o solipsismo, que defende que os
eventos materiais não acontecem quando não existe uma consciência (humana) a
observá-los.
O dualismo, corrente filosófica começada por René Descartes,
defende que existem dois princípios no universo: espirito e matéria. A matéria
sem espirito é inanimada e é um agente passivo. Já o espirito é a origem da
vida e é o princípio ativo do universo. A vida é uma permanente ação do
espirito sobre a matéria. Para Descartes, a razão é a principal característica do
espirito.
No livro “Deus não morreu”, Amit Goswami defende uma versão
quântica da realidade. Para a física quântica caso não houvesse a consciência
existiriam apenas possibilidades, nada de concreto portanto. É a consciência
que “escolhe”, entre as possibilidades, aquela que se torna manifesta e
portanto é este o principal agente universal. Se, por exemplo, um relógio se
encontrasse isolado de toda a gente os seus ponteiros não se moveriam… apenas
quando uma consciência o vislumbrasse os ponteiros assumiriam a hora do
momento. Isto implica uma ação de retro-causalidade, ou seja, no momento em que
a consciência colapsa as possibilidades numa realidade concreta, são “inscritos”
no passado todos os movimentos que os ponteiros tiveram até ao momento
presente.
Ainda em relação à física quântica também há quem defenda
que existe uma consciência cósmica que se encarrega de escolher, de entre todas
as possibilidades, aquela que se manifesta.
Esta nova visão do mundo trazida pela física quântica
desafia o atual paradigma cientifica materialista. O primado da consciência
começa a substituir o primado da matéria. Aonde vamos chegar? Não sei… mas será
certamente uma guerra saudável.
Serás talvez um neodualista? ;)
ResponderEliminarEstá interessante!
Em relação ao materialismo, toda a gente fala de átomos, electrões, etc e eu sei que há experiências e modelos teóricos por detrás de tudo isto, mas, que eu saiba, nunca ninguém viu um átomo e muito menos um electrão. Parece que recentemente apareceu uma "foto"de um átomo, mas aquilo deixa muitas dúvidas... O que será que os nossos amigos cépticos (ver para crer) têm a dizer em relação a isto? (também não é uma área que eu domine muito, embora a tenha estudado).
Sobre o dualismo, parece que o nosso amigo Descartes andou a ser injustamente acusado! Não sei se já leste isto ( http://www.ipv.pt/millenium/arq6_2.htm )
Sobre a Física quântica, parece-me, de facto, um mundo complexo e, embora alguns digam que serve principalmente para tirar conclusões sobre o mundo das pequenas partículas e não tanto acerca do mundo macroscópico,isto deixa muitas questões no ar... Se a expectativa do observador muda lá a tal experiência,então mudará mais o quê? E isso que falas da retro-causalidade, não é o contrário do determinismo? (que no fundo não deixa de ser uma forma de destino, embora possas agir sobre algumas causas ou minimizar certas consequências, suponho, não é?). Já em relação à tal consciência cósmica que escolhe, então nesse caso não teríamos liberdade de escolha, não é? Mais uma vez,também não é um tema que eu domine muito. Lembro-me daqueles temas que apareceram associados à Física quântica, como a lei da atracção, etc e, embora faça sentido até certo ponto, achei certas lógicas demasiado enganadoras e redutoras... Com isto não nego a possibilidade de possuirmos um potencial adormecido, mas penso que entendes o que eu quero dizer,não?
Abraço.
Olá Holos!
ResponderEliminarEssa história da "foto" do átomo parece-me propaganda. Acho que foi obtida através de uns dados estatísticos que depois foram tratados por um computador e tal... não é uma imagem real, mas antes computorizada daquilo que se pensa ser um átomo. Se fosse uma foto real de um átomo (penso que se trata de um de hidrogénio) o fundo da imagem também teria que ser composto por átomos e não é isso que se vê... o fundo da imagem é normal como qualquer outro.
Em relação à física quântica parece que estão a conseguir provar que o entrelaçamento quântico ocorre a escalas cada vez maiores... aliás alguns estudos na área da telepatia mostram isso mesmo. Há estudos em que duas pessoas com laços emocionais fortes são colocadas em diferentes salas com isolamento de ondas eletromagneticas. Ambas são sujeitas a um eletroencefalograma. A uma das pessoas é mostrada uma imagem chocante e é registado um pico de atividade no eletroencefalograma... o mais curioso é que na outra pessoa existe também um pico de atividade nesse mesmo momento.
No que toca à retro-causalidade há cada vez mais gente a defender isso. É muito interessante embora pareça absurdo à primeira vista. Tal como dizes a existência desse fenómeno mina por completo o determinismo mecanicista.
Em relação à consciência cósmica é um assunto complicado. Teriamos na mesma liberdade de escolha já que nós também fariamos parte dela. É como aqueles piquinhos nos tapetes dos carros... Cada um de nós é um piquinho, porém estamos todos ligados. Se virmos o tapete de perto podemos ver os piquinhos mas se estivermos mais longe já não o vemos, parece tudo um (e de facto é tudo um).
Apesar do meu blog se chamar neodualista já não sei se defendo esta posição... aproximo-me cada vez mais do idealismo :)
Abraço!